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Mostrando postagens de julho, 2022

Cometa

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Era uma garota complicada,  não comia doces, adorava melancia.  Subia e descia as ladeiras da Freguesia do Ó,  divertia-se como numa roleta russa.  Em cada livraria, cinema ou loja de discos, descobria pequenos universos,  ela escrevia versos.  Então!  (Assim ela começava quase todas as frases). Então, seguindo a sinuosidade do lugar, ela também tinha seus altos e baixos.  No alto, a conheci, esplendorosa, fulgurante,  fiquei encantado com seu brilho de estrela. Então, veio a ladeira Acompanhei sua descida numa íngreme ribanceira,  Daquele fundo abismo fiquei admirando,  ela subiu como um foguete, até que, cometa errante, desapareceu do meu céu.

Formas de Ver

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Quatro da manhã, lua cheia esparramando um brilho prateado sobre as ondinhas quebrando suaves na mureta do canal quatro. No primeiro alongamento antes de iniciar a corrida, o ar friozinho da manhã trouxe junto com as gotículas de orvalho a voz melodiosa da Marina Lima falando o que se chama amor. Imediatamente você tomou minha mente, então pensei “Há quanto tempo não vejo você!?” E imediatamente me corrigi, pois: vejo você sempre que ouço Marina Lima falando de amor; vejo você sempre que atravesso a ponte Pênsil; vejo você todas as vezes que borrifo sobre o corpo uma colônia qualquer; vejo você sempre que leio algo da Clarisse; vejo você todas as vezes que paro prum café no posto da Bandeirantes; vejo você na luz verde do semáforo. Enfim, vejo você sempre que escrevo coisinhas assim. Exatamente assim como estou vendo você agora.

Cigana

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  A expressão de espanto que a diretora fez quando entreguei meu pedido de exoneração, me lembrou o mesmo gesto de estranhamento da Doutora Lenira quando há quarenta e tantos anos, pedi demissão do escritório onde trabalhava como office boy. “Meu filho, que isso??? Demissão? Mas por quê?”. Acredito que foram estas as palavras que a Dra. Lenira falou. Porém, inesquecível foi a expressão de espanto dessa minha chefe diante da minha decisão. Afinal, modéstia  a parte, eu era um ótimo office boy , o melhor que aquele escritório tinha e todos sabiam que eu adorava ser office boy , conhecia todos os caixas de banco, todos os despachantes e, no alto da minha irresponsabilidade adolescente me sentia e agia como um rei andando pelas ruas do centro da cidade. Não tinha tarefa que me incumbissem que eu não cumpria e fazia mais rápido que qualquer outro. Quando o pessoal do administrativo emendava a hora do almoço, eles sempre recorriam a mim para conseguir o mais sortido e encorpado "