Modernidade

Há um ano, quando a pandemia nos atingiu diretamente, acreditamos que seria uma situação passageira. Por isso, a orientação da direção de nossa escola foi no sentido de trabalharmos com atividades de revisão em videoaulas.

Entretanto, logo ficou claro que a coisa era bem mais séria e que seria duradoura. Então, por tutoriais passados pelo “WhatsApp”, recebemos orientações da coordenação e ato contínuo passamos a trabalhar em “home office” utilizando a ferramenta “Google Meet” e os recursos da plataforma “google for education”. E assim, sem descumprir o calendário de atividades, atravessamos todo ano de 2020 driblando e superando as dificuldades que sabemos foram inúmeras.

Antes de tudo, note-se e registre-se a quantidade de termos entre aspas e em itálico no parágrafo anterior. Termos em inglês que, junto a outros como “lockdown”, “take way”, “fake news” passaram a ser empregados com naturalidade e frequência por todos. Uma indicação clara desses novos tempos, desafios impostos pela modernidade. Pois é essa a questão que pretendo discutir: a modernidade.

Muito antes, ainda no final de 2017, em reuniões por área, a direção informou aos professores a intenção de adotar na escola uma série de mudanças, entre estas além da adoção de um novo nome, também uma radical transformação nas práticas pedagógicas utilizando os recursos da plataforma Google for Education.

Acontece que, reunião no final do ano, próxima ao início das férias, costuma ser muito festiva e, da mesma forma, pouco levada a sério, falo por mim.

Mas, ao longo de 2018 e 2019, outras reuniões orientadoras ocorreram, e nestas tivemos contato com os recursos oferecidos pela plataforma norte-americana, e nos esforçamos (pouco no meu caso, confesso) por utilizar os recursos e as novas ferramentas oferecidas. Enfim, chegamos ao ponto, gostaria de explorar essa minha resistência confessada, (que acredito não ser só minha), de se deixar levar pelas maravilhas dessa modernidade oferecida.

A questão é a seguinte: a ordem natural de todas as coisas, incluindo nós seres pensantes, é a aversão a mudanças. Primeiro porque mudança implica em gasto de energia, na natureza o caminho é no sentido de, sempre que possível, evitá-lo e, segundo, porque o novo, a novidade é o desconhecido, o que não sabemos. E o que não nos é claro, iluminado, é sempre assustador. Portanto, é natural impor-se resistência a tudo o que é novidade, tudo que se diz “moderno”. Mas, note-se, temer, impor resistência, não significa rejeitar ou descartar o que é novo, significa sim temer e impor resistência a mudança para o novo, eu diria ser mais cauteloso ao fazer essa “travessia”, até porque o novo é interessante agradável, a mudança para o novo, o moderno não.

Então façamos uma reflexão sobre essa questão do “moderno” e, principalmente, sobre a “modernidade”.

Segundo o dicionário, o termo “modernidade” significa:

1 – estado do que é moderno.

2 – coisa nova ou recente.

Portanto, considerando a primeira definição, para entender o que é a modernidade precisamos compreender o que é moderno, voltando ao mesmo dicionário, moderno significa:

1 dos nossos dias, recente, hodierno.

Podemos perceber que essas definições de “moderno” e de “modernidade” não são capazes de explicar a aversão à novidade afirmada inicialmente, pois as coisas de nossos dias, o que é hodierno, é conhecido, nesse sentido esse “novo” é atraente e não assustador, garanto a vocês que quando eu era mais novo também era menos assustador do que sou hoje, anos mais velho, quilos mais gordo e calva muito mais proeminente.

Porém, ao aprofundar a pesquisa sobre “modernidade”, percebo que esse conceito carrega em si muito mais do que simplesmente a condição do novo. 

Explico, na obra “Tudo Que é Sólido Se Desmancha No Ar”, o escritor e filósofo Marshall Berman faz uma análise profunda sobre o tema e entre outras coisas ele aponta que o assustador não está no “novo”, na “novidade”, mas sim na transição, ou seja, o que nos assusta e o que nos leva a resistir ao novo é a “mudança”. Nesse sentido, moderno e modernidade está associado não simplesmente a um estado, mas a uma ação, e esta sim é que leva a resistência. Mudar significa sair da zona de conforto e é isso que leva a reação, na física aprendemos que toda ação gera uma reação em sentido oposto, e mais, o ato de mudar implica num salto para o novo, o novo não assusta, o salto sim.

Mais recentemente o filósofo polonês Zigmunt Bauman, em seu livro “A Modernidade Líquida”, também aborda a questão da modernidade pelo viés da fluidez, ou seja, daquilo que é indelével, fluído e consequentemente apavorante, um mergulhar para alcançar o novo, novamente não é o novo, mas sim o mergulhar que é apavorante.

Concluindo, modernidade tem mais a ver com a mudança com a ação da transição, o momento, e este, o momento da transição é um jogar-se no escuro, é sair da luz para alcançar a luz, nessa passagem está a zona do medo, um salto no escuro que nos faz resistir e, muitas vezes rejeitar. E isso é perfeitamente natural.

Por tudo isso, acredito que seja compreensível nossa atitude de desconfiança e resistência em relação às modernosas tecnologias que nos arrebatam e tentam nos levar em sua fluidez de rio de corredeira, com coisas novas, novidades que surgem a todo instante. Afinal, estar sempre mergulhando ou saltando para alcançar o novo é, no mínimo, estressante.

Voltando ao começo, acredito que estamos vivendo essa transição apavorante, ela já dura pelo menos um ano. Quanto aos “home office”, as aulas “on line” no “google meet” na utilização da plataforma “Google for education”. Apesar de todas as dificuldades, acredito que já demonstramos nossas capacidades e mostramos nossa competência. E esperamos que o novo, ou seja, o mundo pós-pandemia, chegue o mais breve possível para que professores GLS como eu, (Giz, lousa e Senil), que tremem ao se deparar com câmeras hd 300 mil pixels telas de HD e projeções em 3D com injeção eletrônica e GPS integrados, possam voltar ao quadro negro e encarar seus alunos “face to face



Comentários

  1. Ótima abordagem, me fez rever conceitos sobre o novo e a mudança... Realmente o que assusta não eh o novo (como eu achava) e sim a mudança... Acredito que muitos professores, assim como eu se identifique com este texto. Precisamos nos unir para trazer luz uns aos outros para que a mudança não assuste tanto... Momento de união e partilha para tentar levar mais conhecimento aos alunos... Abraços...

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  2. It's necessary to change, otherwise, students won't be interested in our classes.

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