Índios
Hoje é 19 de Abril, dia que desde a
década de 1940 é consagrado ao povo nativo, genérica e erradamente chamado de “índios”.
Num dia como o de hoje, nalgumas escolas
são pregados cartazes de cartolinas com fotografias mal recortadas mostrando os
resquícios daquilo que um dia os povos nativos nunca foram, pessoas de corpos
mal pintados vestidas com sainhas feitas de penas ou algo parecido, figuras
patéticas que, em sorrisos forçados e tímidos, demonstram total ignorância ao
que se prestam e para quem servem.
Apesar da minha aversão a determinadas datas comemorativas que se prestam apenas a expor a hipocrisia de uma sociedade que pouco se importa com o objeto de suas celebrações, impossível deixar passar em branco tal efeméride. E, desses dias do índio, um que recordo com saudades e satisfação foi o QUARUP Revival, um festival que ocorreu no final dos anos 1980 na Barra do Jucu, em Vila Velha no Espírito Santo.
Lembro que, eu e meus
colegas do curso de História da Federal do Espírito Santo, a UFES, varamos a
noite tomando o pau do índio, uma cachaça sob infusão de raiz brava, e batendo
tambor de congo enquanto a moçada com seus panos coloridos dançava em roda num
grande terreiro. Eita coisa boa!
Pra falar francamente, nesse festival, índio
não vi nenhum, mas bicho grilo e moças bonitas tinha um bocado.
E, não sei se foi a cachaça que rolava
farta e servia tanto pra molhar a goela, quanto para umedecer as mãos inchadas
de tanto bater no couro retesado dos tambores, não sei se foi a quantidade de
malucos e, principalmente, de moças bonitas com suas saias rodadas, sei apenas
que naquele 19 de Abril eu vi e me enamorei da linda Jaci, a Deusa Companheira de Tupã. Sim meninos, eu vi!
Mas, voltando ao tema Dia do Índio, sobre
o QUARUP, não a versão festiva dos capixabas, e sim o ritual fúnebre dos povos
indígenas do Xíngu, sugiro a leitura do romance de mesmo nome do Antônio
Callado, publicado em 1967, uma viagem antropológica aos primitivos povos do Xingu.
E pra rematar, caso reste alguma
desconfiança sobre nossa relação com os povos nativos ainda hoje, deixo o seguinte testemunho:
Manhã de segunda-feira, primeira aula,
primeiro ano do Ensino Médio, assunto: O Escambo do Pau Brasil.
Com voz pachorrenta, típica duma segunda
feira, descrevo para a sala semiacordada como se desenvolvia a atividade de
exploração da árvore de casca avermelhada, abundante em nossas matas na época
do Descobrimento.
"Os nativos do litoral de nosso
território, povos tupis, trocavam o trabalho de extração do pau-brasil por
contas de vidro, espelhos, quinquilharias em geral...".
Súbito, uma gargalhada de escárnio desperta
a sala.
Um aluno, com enormes fones de ouvido da
marca Philips pendurado no pescoço, vestindo uma camiseta com logotipo da Adidas, calçando
enormes tênis coloridos da Nike e portando um celular da Apple, em meio aos
risos completa
“bobos esses índios!”
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