Iara Amina 2
Levado por um sentimento de gratidão me dispus a oferecer carona ao sujeito que, sem pedir nada em troca, tinha me ajudado. Até aí, nada de estranho. Porém, isso aconteceu numa sombria madrugada e esse tal sujeito, surgiu do nada parecendo uma árvore de natal ambulante de dois metros de altura, daí, considerando as circunstancias e o fato de eu ser um cara medroso, fiquei arrependido, quase que imediatamente, de ter feito esse convite.
Percebendo minha
preocupação, o estranho aceitou a carona com um sorrisinho irônico. E, talvez
por esse motivo, fez questão de explicar que voltava para casa a pé porque
tinha se desentendido com o motorista do Uber que se recusara a levá-lo até o
Caieiras.
O Caieiras é mais que
um bairro, é uma comunidade quase que autônoma em Praia Grande, digo isso
porque por mais de uma década fui professor numa escola pública que atende as
crianças do bairro.
Por não saber dessa
minha ligação com o lugar, meu carona estranhou quando sai da marginal na
altura do Nimbus Motel e ingressei pelas ruas pouco iluminadas da Vila Tupiry
em direção ao bairro sem necessitar de orientação e se surpreendeu quando me
mantive calmo ao ser abordado por jovens armados na entrada da comunidade. Não
era a primeira vez que eu enfrentara isso.
Finalmente, quando meu
carona apontou onde eu deveria estacionar, tive um vislumbre da sua residência.
Uma casa semiacabada, ainda sem reboco, parecendo um cubo de concreto com pé
direito elevado, plantado no centro de um grande terreno bem arborizado num
ponto mais afastado e próximo da maré. A escuridão do local não me permitiu ver
mais detalhes da construção.
Satisfeito por ter cumprido
minha obrigação, pretendia retornar imediatamente, mas fui convencido do
contrário quando o sujeito me alertou:
− Os meninos da
barreira reconheceram você.
Estranhei aquela
afirmação, afinal há pelo menos oito anos eu havia exonerado do Estado e desde
então nunca mais retornara ao Caieiras.
− Reconheceram? Como
assim?
− Pelo que falaram,
você era um professor que gostava de desenhar
− Putz! Meus alunos do
quinto ano, crianças!
− É companheiro, um
tiro do fuzil dessas crianças atravessa teu carro.
Aquela fala me
assustou, pois até o momento não tinha parado para pensar no perigo da
situação.
− É mesmo! Bom, tudo
certo, você já tá em casa, muito obrigado pela ajuda, mas agora tenho que ir.
Entretanto, fui contido:
− Nada disso meu
querido, a comunidade tem um protocolo rigoroso. Acho que não vale a pena
arriscar. As tuas crianças permitiram que você entrasse no bairro porque estava
comigo. Mas, retornar sozinho é muito perigoso.
− Mas, eu tenho que ir
embora!
− Tá certo, eu sei
disso, mas, são três e tantas, daqui a pouco vai clarear, daí você pode ir mais
tranquilo.
Convencido, decidi
ficar.
Assim, enquanto eu aguardava
o fim daquela insólita madrugada, já em trajes normais, passando um café, meu anfitrião
narrou sua história.
Por favor, uma dúvida: será que vale a pena continuar a narrar essa história da Iara Amina?
Continua professor...
ResponderExcluirCom certeza! Aguardando cenas dos próximos capítulos…
ResponderExcluirOi Nati, agradeço sua atenção e sei que para você talvez o contexto, ambiente e lugar, pareça estranho, mas quero adiantar que: vai ficar ainda mais estranho. Quando postar a continuação te aviso. Então, abração
ExcluirContinua simmm...
ResponderExcluirOpa IIIIIII, agradeço o insiiiistente pedido e assim que postar a continuação, eu aviso. Então, fica bem e abração.
ExcluirClaro que deve seguir
ResponderExcluirNos deixou curiosos
Aguardemos