Um Verão a Caminho da Luz


 

O cara chegou aos cinquenta enjoado de tudo, não estava a fim de mais nada, se ligava apenas em programa de culinária 

Depois de tanto "Crème Anglaise" e "Bavaroise de kiwi", acreditou que tudo perdera o encanto.

Depois de já ter rodado todas as estradas, de ter se entupido de café expresso com adoçante, de ter ouvido todas do "Stooges" , de ter lido quase tudo do "Dostoievski" e do "Camus", assistido todos do "Truffalt" e se apaixonado pela "Isabelle Adjani", vivia agora de dar aulas de História pros guris. 

Um dia, ela apareceu.

Foi no início do inverno, tinha cabelos vermelhos, olhos de caramelo e exalava o "Tutti Frutti" da "Britney".

Olhou brava pra ele, o cara ficou todo ouriçado.

Econômica no falar, misteriosa nas palavras, ela comia o "combo" do "Macdonalds" acompanhado com casquinha de creme, mascava chiclete de melancia, vestia "blue jeans" e lia tudo da "Clarice".

Adorava a "Mafalda" e não perdia uma matinê do cineclube. 

Era fã do "Lars Von Trier"

Perdido, o cara não entendia mais nada.

Abandonou a culinária e se livrou das revistas do Laerte e do Angeli.

Em desespero, quebrou os discos do "Lou Reed" e foi atrás dum "long play" da Marisa Monte.

Na locadora buscou uma fita do "Quentin Tarantino",

No sebo garimpou o "O Amor nos Tempos do Cólera" do Gabo, "As Cartas..." da Clarice e "A Instrução dos Amantes" da Inês Pedrosa.

Outro, viajou com ela por outros caminhos, mergulhou noutras praias. 

Louco, roçou o paraíso.

Mas, ela gostava de semiótica, codificava suas palavras e ele não entendia nada.

Ela tinha uma boca pequena de lábios finos, emitia frases curtas. Enquanto, ele escrevia incessante, coisas óbvias e desinteressantes.

Ela gostava de semiótica, ele não entendia nada.

Ela não largava o celular, tinha um perfil no "Facebook" e publicava "stories" no "Instagram" .

Ele mandava cartas por E-mail e não entendia nada.

Ela gostava de semiótica, sonhava em inglês e cantava "Norah Jones".

Monoglota, ele não entendia nada.

Ensandecido, ele comprava o mundo e desfiando confissões explícitas, barato se oferecia a ela.

Ela gostava de semiótica, seu discurso resumido não dizia nada.

Aconteceu num verão, depois de ler "Nabokov", ele colou a caravela junto ao para-brisas do carro vermelho, a cor dos cabelos dela e se mandou pra Floripa.

Decidiu se jogar da Hercílio Luz.



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