Origem

 


Quando tratamos da origem das coisas, invariavelmente associamos o tema ao “início”, entretanto é importante destacar que analisar a “origem das coisas” não significa buscar saber simplesmente o começo, ou seja, quando começou, onde começou ou ainda quem começou. Ao estudar as origens de algo, fundamentalmente buscamos estabelecer os “princípios”, coisa muito diferente de simples “começos”.

Em 1968, eu era um moleque meio desajustado, morava na casa de meus avós maternos na Divisa dos Tambores entre Santos e São Vicente. Nessa época, a coisa mais valiosa que possuía era um tanto de revistas e gibis usados que guardava numa caixa de madeira.

Na época, garotos da minha idade viviam na rua jogando bola, empinando pipas ou fazendo outros tipos de brincadeiras. Entretanto, meus avós eram muito rigorosos, não me deixavam sair por nada, com isso meu mundo se resumia ao quintal da casa na rua Divisória, acho que este era e ainda é o nome da rua larga que separa as duas cidades, do nosso lado Santos, do outro São Vicente.

Acontece que uma vez por semana, numa rua próxima, ocorria uma feira, nesses dias, eu me sentava no muro da frente de casa e me distraia acompanhando o movimento de ir e vir das pessoas, elas vinham com as sacolas ou carrinhos vazios e retornavam com eles carregados de frutas, cereais, legumes.

Ocorre que, num desses dias tive uma surpresa, vi que algumas traziam também revistas, e isso acabou me dando uma ideia. Na semana seguinte, no dia da feira, bem cedinho tirei minhas revistas e gibis do caixotinho de madeira e espalhei sobre uma esteira no chão da calçada em frente de casa. Aconteceu que mesmo antes do final da feira já tinha vendido quase tudo.

Satisfeito, mas, sem ter noção do valor das coisas, no dia seguinte, quando tentei repor meu estoque de revistas e gibis, meu valioso tesouro, não consegui, pois o que arrecadei com a venda era suficiente para comprar tão somente uma revista na banca de jornal da Antônio Emerich.

Somente então, eu percebi que aquele tesouro havia se acumulado de uma forma que na época era bem comum, eu trocava gibis e revistas com outros moleques do bairro e principalmente da escola e nessas trocas, as vezes, um gibi do “Recruta Zero” resultava em duas revistas “Contigo”, ou um “Billy The Kid” por um “Tarzan” e uma “Intervalo”, e nesse balanço, o caixotinho de madeira as vezes esvaziava, noutras se enchia.

A partir daquele dia me desfiz do tal caixotinho, vazio ele perdera a função.

Escrevo isso porque, desde muito cedo percebi que não seria um bom empreendedor. Isso se confirmou posteriormente, todas minhas tentativas nesse campo foram frustradas e essa constatação me fez chegar aqui.

Tudo bem, não sou bom empreendedor, mas sou bom em contar histórias, aliás, sou Historiador. Por isso escrevo e publico nesse espaço. Minha intençao é que este "Blog" seja como meu antigo caixotinho de madeira repleto de gibis e revistas usados, neste caso repleto de leitores. Afinal, apesar de tanto tempo ter passado, continuo ainda sendo um moleque desajustado.

 



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